Prefácio ("Avulsas Impressões") de Ângelo Rodrigues ao livro «DIALECTOS DA ALMA» de Manuela Vaz de Carvalho, Edições Colibri, 2022

13-08-2023

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Uma publicação das Edições Colibri - setembro de 2022.


«A loucura humana é fonte de ódio, crueldade, barbárie, cegueira.
Mas sem as desordens da afetividade e as irrupções do imaginário,
sem a loucura do impossível, não existiria entusiasmo,
criação, invenção, amor, poesia».

Edgar Morin, in «Amor – Poesia – Sabedoria», Instituto Piaget, 1999

«Poeta é aquele que resiste, que se interroga sempre, que luta, que se inquieta, que se revolta, que subverte o instituído, que diz NÃO (!). O poeta é vidente, profeta, anunciador, avisador, inconformista-radical, idealista, utópico, insatisfeito, crítico de ortodoxias e de algumas deferências, desbravador e caminheiro de sentidos, de diferenças, ousadias, adorador da beleza deste mundo e dos outros (acessíveis aos criadores-artistas). O poeta é um humanista, um cidadão do mundo, um homem-deus com Alma-grande».

Ângelo Rodrigues, in «Musa Lixada e Preguiçosa»,
Aforismo nº 4 do texto "DOS POETAS", Edições Colibri, 2019


1. Em boa hora somos presenteados por este extraordinário livro de poesia da poetisa, amiga e "Alma-grande" Manuela Vaz de Carvalho. Quando a Manuela publica, esse ato é (ou deveria ser) um acontecimento marcante, pois, uma das grandes linhas orientadoras do seu fazer-poético é a preocupação pela Ecologia no seu entendimento mais nobre e autêntico bem como a pedagogia para a necessidade e urgência de uma espécie de empoderamento bucólico – uma redenção pela vivência da Natureza pura. Assim, «Dialetos da Alma» não encerra apenas poesia peculiar e da boa; é também um grito de revolta, um alerta, um aviso, uma tentativa de consciencialização da humanidade para a nobre causa da Natureza, da Ecologia e do Bucolismo do mundo. Leiam como se fosse um Mantra: «Descanso este meu olhar cansado / sobre os verdes prados / a florir, / onde pasta o possante e manso gado / esmoendo a fresca erva a digerir.».

2. O exercício poético da Manuela Vaz de Carvalho é, sobretudo, uma celebração da vida. É também a busca de Sentido(s) através de uma vivência que dá a devida atenção ao que por norma é esquecido e banalizado. A Manuela repara… é uma poetisa dos "pequenos detalhes", e, ao "poetizá-los", torna-os grandiosos (porque sempre o foram e serão…). Deus e o Diabo estão nos detalhes e nem sempre o Todo ou o resultado desse Todo, é mais importante do que os detalhes. Repare-se nestes singelos e significativos versos da poetisa, que bem ilustram o que pretendemos partilhar (para ler em voz alta): «Bendita sejas ó seiva adormecida / no tronco rugoso da videira... / Hibernação aquosa em letargia / no inverno sombrio / a gotejar (…)».

3. Manuela apresenta-nos uma poética que revela uma mundividência assaz peculiar e diferenciada e que se alimenta da natural e necessária insatisfação e inquietação dos autênticos criadores. O seu "ser e estar em poesia", inspira-nos e convida-nos ao Amor pela Natureza, como se ela fosse uma espécie de "Moira bucólica" a dizer-nos que o Todo está em tudo e o tudo é (e não é), apenas e só, uma parte do Todo. Como se nos dissesse, à semelhança de um Oráculo da Grécia antiga: procura-te e encontra-te também através da Pedra, do Rio, da Árvore, da Folha caída... Os seus poemas são hinos, e muitos deles, orações que cantam a nobre e fantástica criação dos deuses e que nos fazem crer nos espíritos da Árvore, da Folha, da Pedra, do Rio, da Fonte… Há que Dizer várias vezes estes versos em voz alta (como se fossem Orações ou Mantras) em cima de uma montanha, e, com isso, contribuir para a redenção (equilíbrio, harmonia) de todas as dimensões da vida. Qual "ritual sagrado" (da religião dos poetas) que nos apazigua, nos dá paz e nos orienta para a essência e força supremo de tudo: o Amor. «Quero evadir-me... / Subir ao alto da montanha. / Construir o meu casulo / com as pedras bravias / da minha inquietação (…)».

4. Obrigado amiga e poetisa Manuela Vaz de Carvalho por ser quem é e por nos lembrar que as (tantas vezes) consideradas pequenas coisas da vida, são sim, as mais importantes e grandiosas acabando por serem o sal e a pimenta da nossa alimentação do Espírito. Os seus poemas têm os condimentos necessários, e, especialmente por isso, são comida fresca. Façam um favor à vossa Alma que está com fome: comam Poesia e também a da Manuela! «Sou uma impudência a mesa posta / de um verso onde o possa escrever / ó subalimentados do sonho! / a poesia é para comer.» (Natália Correia, Excerto do poema "A defesa do poeta", in as Maçãs de Orestes, 1970).

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