Prefácio ("Avulsas Impressões") de Ângelo Rodrigues ao livro «ENLEIOS DO MEU ESPÍRITO» de Carmo Candeias, Edições Colibri, 2022

18-08-2023

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Uma publicação das Edições Colibri - 2022


Num recanto da Via Láctea, a 27 de julho
do ano da graça do Senhor de 2022

«A poesia, cujo material é a linguagem, é talvez a arte mais humana
e menos palavrosa, aquela em que o único produto fica
mais perto do pensamento que a inspirou»
Hannah Arendt

1.  Enleios do Meu Espírito é um exercício de introspeção autêntico, ousado, corajoso, absolutamente necessário e profundo. A poetisa agarra-nos pela mão e convida-nos a um extraordinário passeio pela sua Alma inquieta e insatisfeita (apanágio dos poetas e dos criadores) que tanto viveu e experienciou nesta vida. Lembremo-nos do grande Sócrates (o Grego): «A vida não examinada não vale a pena ser vivida pelo homem». A poetisa tem a coragem e a ousadia de, através da sua poesia, escrutinar/examinar também as nossas vidas e, sem querer, atribuir significado e Sentido(s). Este passeio pela poesia da Carmo Candeias, é também uma aprendizagem, uma tomada de consciência, uma comunhão e uma cumplicidade. Entramos facilmente nestes poemas e deles fazemos parte integrante, como se os mesmos existissem desde o princípio do mundo. Cada poema é como que um "fotograma" do filme trágico-cómico das nossas vidas. A mundividência e a intencionalidade da poetisa, entra em nós e, como que num jogo de espelhos, qual projeção psicanalítica, somos inundados de visões, de arrependimentos, de desejos, de emoções e de "outras coisas" (bem como de estados de espírito diferenciados e peculiares) para as quais não existem palavras para as descrever. Tão distraídos temos andado com o rame-rame e a mesmice da vida, que nos surpreendemos e espantamos com tanta falta de Sentido(s). Enleios do Meu Espírito é uma "ferramenta espiritual" que, ao ser bem usada, consegue como que a execução de um upgrade ao Sentido velho e gasto. Também nos lembra que é mais importante o Ser do que o Ter; a Emoção do que a Razão. Que prevaleça a Autenticidade e a Ousadia; que possamos desejar mais Alma, mais Sonho, mais Amor.

É dito neste excerto do poema «Voz da Alma»:

(…)
com brecha em ferida cavada na alma,

registo com o sonho, que o amor

é a arma, mais poderosa do Mundo.

2.  Carmo Candeias apresenta-nos um exercício poético diverso, eclético, pois a realidade percecionada e poeticamente compreendida, implica, naturalmente, a exploração de vários subgéneros, com a nobre intenção de alcançar e perspetivar nuances até então pouco ou nada tocadas e não suficientemente evidenciadas. Como nos ensinou Saint Exupéry (in O Principezinho), «Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos». A Carmo usa a linguagem e a luz do coração, e, assim iluminada, somos informados e elucidados que a vida e o viver são bem mais do que aquilo que julgamos. A poesia da Carmo funciona como uma espécie de "despertador" que nos liberta da sonolência e da mesmice dos dias. Assim preparados, estaremos mais prontos para a transformação e para podermos desbravar outros caminhos em demanda de destinos essenciais. A poetisa é desbravadora, aquela que entra na "floresta escura" e que ilumina os trilhos por anda passa, que, alguns deles, serão aqueles por onde muitos de nós irão também passar (com a vantagem de já existirem os trilhos e de estes estarem iluminados). A poetisa lança o repto e desafia-nos a ir ao mais profundo de nós.


É dito neste excerto do poema «Mistérios»:

(…)

cascata sobre planalto profundo

beijando ermo, com a pureza do orvalho

desafiando a natureza e o Mundo.

3.  Que o mundo possa ser uma imensa e boa seara, e que sejas tu o bom e eficaz agricultor, orgulhoso da sementeira. Prepara bem o teu arado. Que os terrenos te sejam férteis e que a colheita seja de excelência!

Lê-se neste excerto do soneto «Anseios dilacerantes»:

(…)

Anseios dilacerantes, sem crença, eram teus

Seara semeada, não germinou sadios grãos

Em terreno arado, que não pertencia a Deus.

4.  Rendo-me também ao Panteísmo e à força da Natureza que esta obra tão bem evoca. Estou com a poetisa quando nos lembra que o desencanto advém - sobretudo - da distração para com a Beleza. É cada vez mais urgente reparar e não apenas ver. É cada vez mais necessário incluir no conceito e semântica da Beleza, não apenas a luz, mas também as sombras. Grandioso é o desafio da via do meio. Este pedaço de poema bem que podia ser um dos mantras do iluminado mestre Siddhartha.

Lê-se neste excerto do poema «Beleza intensa»:

(…)

Vi o desencanto delineado

Cruzado, com hastes no ar

Na sombra pela passagem,

Delineada, foi a mensagem

Cruzando sombra num olhar.

5.  Sim, somos - orgulhosamente - o grandioso povo do V Império, cujo Destino/Fado ainda está por cumprir. Estamos em nobre missão, e o que falta (que é quase tudo), é a nossa transformação interior, para que possamos, de facto, iniciar a revolução cultural e social que começa em cada um de nós. Frui o fazer poético da Carmo e transforma-TE-NOS. Há um criador em cada um de nós. Com Poesia, Amor e Saudade do futuro, seremos imortais. Atreve-te!

É dito neste excerto do poema «Destino»:

(…)

Destino que corrói a espera

Quem me dera a renunciar

Erguida a vida sem quimera

Sem que ela uive sem julgar.



Parabéns poetisa e amiga Carmo Candeias pelo presente deste seu belo livro que irá, estou certo, contribuir para um mundo melhor, pois aquilo de que nos fala, é, de facto, o mais importante.

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