Prefácio III de Von Trina ao livro «DO PRINCÍPIO E DO FIM» de Ângelo Rodrigues, Edições Colibri, 2022

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Uma publicação das Edições Colibri - dezembro de 2022
«CARA DEUM SOBOLES MAGNUM JOVIS INCREMENTUM»
"raça querida dos deuses, ilustre descendência de Júpiter"
[expressão usada para anunciar o nascimento de 'um filho' de família ilustre, neste caso este Livro-Filho do Ângelo Rodrigues]
Virgílio, Bucólicas, 4, 49
Estranhos ao poeta, continuam os desígnios divinos ou quiçá humanos, de uma e outra vez ser convidado a escrever em prosa, fora do seu elemento natural e confortável - a poesia, prefácios, posfácios, notas críticas e tudo o mais que a literatura usa para se apresentar formalmente, expondo assim o seu próprio íntimo e sentimento sobre uma obra. Ao ÂNGELO RODRIGUES, parceiro e companheiro de armas de tantos 'combates e desafios' e à sua arma mais recente «DO PRINCÍPIO E DO FIM – Poesia, Aforismos e EntreVista», agradeço mais esta louca peleja, pela cultura, pensamento, opinião e humanismo literários, pelo BEM em tempos de mal.
«Os deuses ordenaram: vai...
Faz o caminho do poema até ao "Fim"!»
Nunca peçam a um poeta que faça uma autópsia a um livro ou obra, como que quebrando os elos vitais de uma flor magnifica e sob pedido de análise crítica, esquartejar a raiz, o caule, as folhas, as flores e os frutos, da sua unidade coesa e harmónica. Os críticos literários que o façam, ainda que posteriormente sejam incapazes de restaurar o que dissecaram e desmembraram. Nós, os da poesia e pela poesia, apenas conseguimos usufruir e ser matizados na interioridade e sensibilidade, pela forma com que ela nos toca e reagimos em função desse estímulo incontornável, tomando enquanto beneficiários, o poema como nosso e roubando-o ao autor, interpretando e matizando-o com uma carga pessoal que o torna nosso. Apenas se tornam obrigatórias das condições deste evento, existir a dicotomia sagrada da poesia e haver a profana interioridade humana.
«Minha querida, fantástica e poderosa hormona do Amor.
Deusa do prazer supremo.
Alavanca de todas as osmoses.»
[referência do autor à Oxitocina]
«tenciono voltar ao teu encontro para te falar também da DOPAMINA, da SEROTONINA e da ENDORFINA. Tenta ser feliz e não te esqueças de praticar o AMOR. Oxitocina-te e muita saúde!»
Eis o autor a expor a essência e a poesia; poderia ficar por estas linhas nesta obra e na vida, em poesia perante o leitor que o poético dizer supremo estaria concluído para quem tivesse a coragem da fruição, por ser metapoema, por ser meta-lírico, por expor o caminho avisado de um mundo entediante ou cruel que necessita de luz e esperança, para redenção. É avisador e profeta de caminhos a trilhar, só não os poderão seguir aqueles que são privados e espoliados dessa mesma espiritualidade redentora.
«Em demanda até ao "Fim"
pois o "Fim" não existe.
O que há nunca nos basta
e o que parece não haver,
talvez seja o recheio
de outros Mundo(S)
por conquistar.»
Quero testemunhar que degustei, desfrutei e saboreei, na brisa da tua literatura, como passageiro convidado, partícula do 'uniVERSO' a planar no corpo imaterial da tua poética, como num sonho fluído e orgástico de palavras.
«Seguindo o Intemporal até à Transcendência.
E que os ventos luso-místicos nos acompanhem.»
«O paraíso pode ser uma biblioteca com um bosque em volta.
É aí o lugar da eternidade prometida. Aguardemos com paciência.»
Vê, vê por favor lutaDOR, porque só os poetas veem o que os outros apenas olham… que já não há no que escrevo eu e tu, já se esvaem as palavras na sintonia do nós, inevitavelmente. Somos seres irmanados nos significados que interiorizados se tornam, enquanto leitor, também e sobretudo meus de autoria, ainda que após a 'montanha russa' que nos propões, seja necessário vencer a vertigem e o sedentarismo, desconstrução e parto.
«Farto-me de olhar, mas não tenho conseguido VER.»
«Salta para os ombros das palavras e que elas te levem.
Viaja com (e nas) Palavras para dentro e fora de ti.»
Neste momento, é inteiramente meu-nosso o teu livro, já reflete a minha violenta paz interior e as tuas letras perdem-se no meu sentir, como leitor-autor, a sensação de sermos um só pela leitura e assimilação, numa 'orgástica' (como eu gosto de te roubar esta palavra) fusão de prazer. Atenção que todo o prazer, incluí como caminho o esforço e a dor inerente, até à empatia. A recompensa é imensa, mas efémera, como percurso que terá sempre que ser reiniciado.
«Talvez seja difícil de aceitar para muitos de nós, mas aprendi também que o sofrimento espiritual implica – necessariamente – algum sofrimento.»
«Adoro tudo o que é Luz, claridade, luminosidade, evidência, e, pasme-se(!), obscuridade. É também por isso que sou místico.»
Expresso ainda neste prefácio - o poeta não é filósofo - a referência à forma insubmissa e heterodoxa, como quem grita "anarquista graças a Deus", da fusão de géneros que miscigenas da poesia ao aforismo e da entrevista ao haiku, como quem cria sem PREconceitos ou barreiras espiritualmente técnicas. Resta-me agradecer-te a experiencia que sempre renovada em expetativa, nunca foi frustrada e foi até elevada neste «DO PRINCÍPIO E DO FIM – Poesia, Aforismos e EntreVista».
«Tenho tantas dúvidas e inquietações, mas quero crer. Se não conseguir acreditar nesta encarnação, talvez o consiga numa próxima. Preciso de tempo, de Poesia, de Artes, de Misticismo, de…»
Obrigado ÂNGELO RODRIGUES pela viagem incómoda, mas profundamente gratificante à tua mística literatura, combatente do bem, da cultura anti uniformização e da vida.
«Aguardemos – juntos e esperançados – a dita e prometida Singularidade. Por enquanto, vamos adormecendo a Morte e inquietando a velhice.»
«Dá-me Luz(!) Dar-te-ei Luz(?)»
Agradeço a subversão,
desculpa qualquer 'coisinha'.
Tenham esperança, sejam
eXigentes.
Von Trina
Poeta, Performer, "Mestre em História da Qualidade de Vida e da Boémia Contemporânea"