Crítica da escritora Eugénia Martins sobre «MUSA LIXADA E PREGUIÇOSA» de Ângelo Rodrigues

11-08-2023

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Uma publicação das Edições Colibri – maio de 2019



Por detrás de cada amante acredito que exista um outro mundo. Um berçário de estrelas, uma ponte infinita. Tudo vão e vazio na densidade infinda dos Deuses. Com certeza que em todas as coisas indivisíveis, realidades nascem sorrateiras e o humano, nessa realidade insustentável bela e doída não pensa senão em fugir.

Fugir deste ou doutro mundo qualquer, da morte ou da vida, tanto faz. O importante é fugir. Fugi de mim, dos meus pensamentos, na expectativa vã de, de mim retirar mágoas gritando no meio da estrada ampla e escura como breu onde jamais ninguém me ouviu.

Quando nasci ou reencarnei ao atingir a maturidade para entender meus sentimentos, meus pensamentos, adquiri conhecimentos que interiorizei como sabedoria. Foi nessa sabedoria que percebi que na reencarnação "um pouquinho" da alma de Fernando Pessoa, ele enviou para mim. Não sei se por bem ou por mal.

Não incluía nesse pedaço de alma a sua capacidade única de escrever de juntar as palavras e com elas transmitir sentimentos, dúvidas, realidades, levantar questões, colocar a Mente humana a funcionar. Não funcionou! Essa parte da alma não reencarnou em qualquer ser. Guardou-a para si para SER, não TER.

A parte que me transfundiu foi a da virtude e autodomínio ou a arapuca ou o artifício de Imitar a Vida (o andar por cá). Creio que consegui superá-lo!

Nunca nada na me faltou (me falta) nem o material ao qual não dou valor. A mim, só me falto Eu. Sempre assim senti, vivi e já o escrevi para não esquecer.

Jamais me senti poeta nem escritora, apenas prefiro o absurdo de escrever ao absurdo de não o fazer. Escrever faz parte do Eu que não tenho e que já não me faz falta.

Algo aprendi. Imitando a Vida carregada de morte como o bem para o meu mal. Não necessitei de chegar ao jardim da eternidade para Ver e me Certificar, sem qualquer dúvida em Verdadeiro Absoluto que a minha Vida (Não o andar por cá) se dividiu em duas partes:

Antes e depois da MUSA LIXADA E PREGUIÇOSA.

Conhecia o homem. Reconhecia a sua inquietação e insaciável perturbação no" fazer", no caminhar constante entre trilhos e pedras e, chegar seguro. Correr não é chegar!

Não conhecia (desconfiava mas não podia alcançar) a sua capacidade, inteligência cognitiva, assim como inteligência e competência emocional.

Transfigurou-me! Transfigurou-me na medida em que as palavras que Devorei e Devorarei me alertaram, me deram a conhecer o Bom. A Qualidade.

O meu Q.I. e Q.E. não se comparando ao seu obrigou-me a reler as mesmas frases várias vezes, não para as entender mas para as interiorizar.

O sentido, o sentimento, as questões, as dúvidas e (in)certezas, modestamente, posso talvez pela sabedoria da idade que lhe tenho de avanço, afirmar que retratou o meu como uma janela aberta ao azul do céu e do mar. O princípio e o todo, a verdade e a mentira, o absoluto o subjectivo, o absurdo, o hipotético, a realidade, a utopia, o mistério e a Vida.

Mas, eu tenho o jogo de xadrez, sei as regras mas não jogo. Você, não sei se sabe a regras se é por intuição, mas joga e ganha o jogo na perfeição.

A certeza da verdade e da mentira expõem-se no ridículo da vida de quem apenas por ela se deixa levar seguindo o som do chocalho das ovelhas, A certeza do bom e do mau interior expõem-se na capacidade de irreverentemente ser capaz de pronunciar a difícil palavra Não e ser capaz, ter o dom de ser feliz!

A certeza do absoluto expõe-se na estupidez com que tantas vezes me recuso a ouvir e a ver, apenas. Absoluto é o absurdo de quem se recusa a aprender, a ver (não me atrevo a dizer enxergar), a ouvir a Ser, Você É.

Outrora escrevi algo sobre o humano e a sua ambição desmedida, estúpida, menor de Ter em vez de Ser.

Místico, corajoso, capaz e inquietante na forma de fazer, o autor da MUSA LIXADA E PREGUIÇOSA, tão evidente que se aventura a colocar este título a um livro de poemas.

O Indizível não está ao meu alcance, mesmo depois do livro, o sentido talvez tenha sido apreendido. A determinação de ousar uma segunda chance no que não sabia ou ignorava que não sabia, quiçá? Mistério absoluto e absurdo.

A auto-estima que em mim foi crescendo ao longo dos anos depois da MUSA LIXADA E PREGUIÇOSA, certificou-se que estimar-se é o importante para sem correr chegar a algum lugar.

No entanto e, apesar de nunca considerar e/ou acreditar (mesmo ouvindo o pronúncio do mesmo) no valor do meu trabalho, aprendi a lição que me faltava aos 60 anos.

Este magnífico livro intitulado MUSA LIXADA E PREGUIÇOSA, toca Todos os sagrados e profanos. Toca a necessidade (para quem a conseguir entender) da compreensão do absurdo, do mistério, do óbvio, do essencial (sempre invisível aos olhos como disse o poeta há tantos anos atrás) que no mínimo se deixe utilizar a capacidade de usar o seu pedaço de sol, a sua capacidade de tentar a felicidade simplesmente Vivendo sem ser para ver Deus. Para Ser ele próprio. Inquieto, provocado, fragmentado e reunindo-se, revolucionário, nas peças do puzzle e procurar mais uma razão para Viver no Sobrenatural ou do lado de cá, não importa onde nem como mas Ser.

Esquizofrénico tem sido o meu percurso, irreverente em busca de algo no Sentido, no Sinal, no Destino, no Princípio, no bom, no belo e mesmo que venha a ser no final valeu a pena. Até hoje não sei se alguma coisa consegui; depois de hoje prometo que vou tentar. Ousadia pura e excessiva para alguém que no amor da vida encontra fel em vez de mel.

O místico, o misterioso, as guerras pela escolha de um nome para um mesmo Deus, estupidamente, nasce na morte, na dor. A dor em que (felizmente não pensamos 24horas por dia, pois endoidecíamos) mas quando olhamos a mesa no canto da sala com um lugar que deixou de estar ocupado, quando no jardim não vemos a sombra de quem apanhava as folhas mortas, de quem com o tempo deixamos de falar por esquecimento ou por dor que recusamos ter, aí nasce a dúvida, levanta-se a questão e exorcizamo-nos em procura da resolução do mistério em que jamais se pensou. É aí que se sente que a dor dói.

Dr. Ângelo Rodrigues já não me lembro como e quando nos conhecemos mas creio que foi no mínimo há 100 anos. Tenho no entanto a verdade absoluta de quanto para mim valeu a pena. A sua presença é uma mais-valia na minha Vida.

Para si se tem importância o nosso (re)encontro é efémera a duração, pois nada acrescentei ao seu Viver. Mas o objectivo do nosso (re)encontro é evidente. Estava predestinado dizer-lhe sinceramente o Orgulho que tenho em dizer ao Mundo que conheço

"O POETA".

Parabéns Ângelo. Escreveria uma bíblia comentando o que espero que a maioria das pessoas entenda no seu jogo de palavras.

Não duvido que José Ortega Y Gasset quando escreveu o seu pensamento descrevendo o poeta diferenciando-o do homem estava com certeza a pensar em si.

Um beijo de amizade

Eugénia Martins
Escritora, Ativista cultural e...