Prefácio ("Avulsas Impressões") de Ângelo Rodrigues ao livro «CONTOS LILIPUTIANOS» de Carlos A. Couto Amaral, Edições Colibri, 2022

17-08-2023

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Uma publicação das Edições Colibri - agosto de 2022.


«A Literatura não é sobre algo,
é a própria coisa, a própria essência»
Vladimir Nabokov

«Tomei um cálice de passas destiladas.
E deslizei num tapete rolante, que me levou a um pórtico com o dístico: "Aqui só entram mentes brilhantes" (…)»
Carlos A. Couto Amaral

1. Este novo livro de Carlos A. Couto Amaral transporta-nos para o universo surreal. São escritos livres, diferenciados e peculiares, assumidos também como pequenos contos; mas o que aqui vamos encontrar é musicalidade, aforismos intensos, luminosos, problemáticos, inquietantes (muito à maneira – e em homenagem - aos clássicos gregos antigos). Podemos estar a ser confrontados não apenas com o contista experimental e inovador, não apenas com o poeta, mas também com o pensador, o filósofo alternativo e heterodoxo, que não alinha com o "rebanho" e que tem a nobreza, a coragem e a ousadia de reparar, e não apenas ver ou olhar, o mundo com a poderosa lente da Literatura. Assim, a filosofia original que este livro encerra, bem como um certo misticismo, confundem-se, e o resultado é uma obra singular e diferenciada cuja fruição recomendamos, pois, a Alma - leitor distraído e tão cheio de rotinas e de mesmices - vai decerto agradecer.

2. A mundividência e o sentido da demanda do Carlos, espelhados nas narrativas deste livroinquieta-nos, provoca-nos e força-nos a pensar "fora da caixa" (de forma divergente, artística, inovadora, diferenciada, pois a realidade está cheia de convergências). É "uma viagem iniciática" – cada vez mais necessária e urgente –, que muitos tardam emrealizá-la por ignorância, falta de coragem e de ousadia.

3. São também contos e aforismos cinematográficos, pois com subtileza e elegância, se apresentam como pequenas-grandes narrativas que, à semelhança de um bom filme ou documentário, nos permitem ver o que somos e quem somos (qual "espelho psicanalítico", qual catarse, qual introspeção autêntica). E se nem sempre temos a coragem de nos confrontarmos com a nossa interioridade, com os nossos fantasmas, incertezas e orientações alternativas, o livro do Carlos fala-nos, sem peias nem "rodriguinhos", do verdadeiro ser humano; contudo, e é de facto caso para estranharmos, aquele que simultaneamente desejamos e receamos. É este livro também um "tratado" de coragem e de ousadia, um mapa até agora secreto que, estou em crer, permitirá realizar a "caça ao tesouro", isto é, ir ao encontro do que realmente vale a pena em nós.

4. A grande lucidez e inteligência desta escrita, a dimensão desconcertante, o surreal, o humor, a ironia subtil e fina, bem como as farpas colocadas nos sítios certos, também convivem por aqui. A peculiaridade deste escrito resulta do já enunciado, mas também do, digamos, "há qualquer coisa" que é como que "a cereja em cima do bolo" que não é possível revelar nem descrever, mas que o leitor decerto vai encontrar. Há coisas que não se dizem nem se recomendam, como dicas ou pistas de análise, apenas nos acontecem, e são únicas no sentido em que as experienciamos sem termos necessidade nem vontade de as partilhar. Eis também, por isso, o enigma deste livro. Sempre gostei de mistérios e de enigmas e, também por essa razão, me considero um místico assumido.

5. «Cala-te! Por que não te calas? Não vês que a palavra é uma arma? Não mates mais nada. Por favor, cal…». («Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar», é dito no famoso Tractatus Logico-Philosophicus). Entre outros, também o grande filósofo Wittgenstein nos alertou para a importância do Silêncio nas nossas vidas. Estamos rodeados de ruídos, e, quantas vezes a cacofonia do mundo nos retira o bom senso e o Sentido.

6. Obrigado amigo Carlos por seres quem és e por me teres esclarecido, inquietado e perturbado, e ainda por nos apresentares caminhos alternativos. Este teu livro é também uma viagem ao centro da Alma, viagem que permite descodificar um pouco mais essa coisa da "condição humana".

Como ambos sabemos, a Literatura (e toda a arte) deve ter esse nobre propósito: inquietar e perturbar.

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