ENTREVISTA
A LITERATURA NO BLOG: RELATOS DE BLOGUEIROS
Entrevistado: Ângelo Rodrigues
Entrevistadora: Mayara Cruz Albuquerque (IC/UECE - Brasil)
Orientadora da tese: Maria Valdenia da Silva
Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central
FECLESC/UECE - Brasil - 2011


1. Como, quando e por que surgiu a ideia de criar um blog?


Creio que fui dos primeiros a criar blogues em Portugal porque desde o início, tal como agora, penso que o blogue é um bom instrumento de divulgação e porque permite, além do mais, a mais-valia da inter-atividade. Os blogues foram, de facto, uma ferramenta "revolucionária" no âmbito da comunicação e divulgação de projetos e afins. Tenho cerca de trinta blogues criados neste momento.

2. Qual a sua visão sobre o Ciberespaço. Fale-me sobre a coexistência Literatura e Ciberespaço.


O Ciberespaço é a grande revolução desta época em que vivemos. A Literatura ganha com o Ciberespaço e a o Ciberespaço com a Literatura. Trata-se, se quisermos, de um bom casamento. Contudo, continuo a pensar que os blogues não são uma boa ferramenta para publicação de Literatura mas apenas para divulgação de livros e de autores. Não acho piada nenhuma, por exemplo, ler um texto literário ou um poema num blogue mas vejo todo o interesse em que seja criado um blogue, por exemplo, para acompanhar o percurso de um livro e de um autor. Os blogues são uma boa
ferramenta de divulgação e não de publicação. Para isso existem outros suportes e o grande suporte da Literatura é o Livro que vai estar de "pedra e cal" por longos e bons anos mesmo que nos instalem um chip no cérebro que possa conter e descodificar tudo e mais alguma coisa.

3. Como você analisa os intercâmbios literários entre as publicações online e os seus leitores e entre os próprios escritores que se utilizam das novas mídias para divulgar os seus trabalhos?


Neste momento, e apesar das ferramentas que se avizinham e que de facto podem alterar completamente todo o paradigma vigente, estou em crer que durante as próximas três ou quatro gerações, vai existir um equilíbrio (desejavelmente saudável) entre os meios tradicionais de divulgação e as novas ferramentas. Os meios tradicionais (Jornais, Rádio e Televisão), têm prestado um péssimo serviço à Literatura e até à Cultura em geral. É muito raro a divulgação de um livro ou de um autor - por muito bom que ele seja
- nesses meios. Por mim, e estou em crer, para praticamente todos os autores com que me relaciono - uns mais conhecidos que outros - os meios tradicionais podiam morrer pois só falam de Política, Futebol, relações cor de rosa, casamentos do "Jet-Sete" e do "Jet-oito" e pouco mais. É miserável...

4. Fábio Lucas em seu livro Literatura e Comunicação na era da eletrônica pergunta até onde a revolução eletrônica da mídia afeta a Literatura. Nesse sentido você acha que a Literatura pode estar sendo vulgarizada?


A Literatura - e sobretudo aquela que é produzida por muitos autores que não são mediáticos mas que são muito bons em termos literários - devia, obviamente, ter mais espaço nos meios tradicionais de divulgação e os ditos jornalistas deviam saber também o que é uma apresentação de um livro e saber fazer reportagens sobre livros e apresentações de livros e de outros que há dias em que não acontece nada no país em termos culturais e literários quando sabemos que muitas editoras e instituições apresentam livros e autores praticamente todas as semanas para não falar ainda das muitas exposições artísticas que acontecem em várias cidades deste rico país cultural (mas com pobres jornalistas) e sobre as quais não existe nenhuma notícia em nenhum meio de comunicação tradicional. Somos um país de pacóvios também no universo do jornalismo! Vão todos atrás dos mesmos políticos e das apresentadoras de televisão. Pasme-se o leitor desta coisa quando um telejornal ocupa 75% do seu espaço com Futebol!!!!. O resto não interessa para nada. Parece uma brincadeira de crianças e lamento a inexistência de jornalistas culturais neste país que está a ficar cada vez mais "um país da treta". A crise que atravessamos e que se agrava a olhos vistos, tem também, e muito, a ver com a atitude de alguns dos jornalistas que temos.

5. As novas formas de leitura via computador tendem a modificar os hábitos de leitura. De que forma os novos hábitos atingem a fruição estética de um texto literário?


Eu detesto ler um texto literário no computador e estou em crer que poucas pessoas o fazem. Contudo, e com o desenvolvimento dos computadores e de tecnologias altamente revolucionárias que todos os meses (para não dizer semanas) nos espantam e nos obrigam a mudar a nossa mentalidade e a encarar o novo paradigma sem a síndrome do "velho do Restelo", como a apresentação de conteúdos WEB em papel ou no tampo de uma secretária, é possível que dentro de uma ou duas gerações, possamos ler um livro cujo texto poderá aparecer no tampo da mesa da cozinha enquanto se almoça. Para mim, e estou em crer que será assim até ao fim dos meus dias nesta encarnação, ler um bom texto ou um bom poema, terá que ser - necessariamente e desejavelmente - no nobre e versátil suporte LIVRO que é barato e que não precisa de se ligar à corrente.

6. Como é sabido, narrativas longas, como o romance, já não encontram tanto espaço no dinamismo do Ciberespaço e com isso novos gêneros literários estão sendo criados. Que estilos literários estão mais presentes em seus blogs?


Nos meus vários blogues, procuro colocar textos curtos e apelativos que não cansem o leitor e que os mesmo possam ser lidos em menos de um minuto. Eu sou adepto do género literário conhecido por «Aforismo» e é mais este género que - de quando em vez - vou publicando (cada vez mais raramente porque a WEB também me cansa bastante).

7. Sabemos das novas estratégias de produção e recepção para atingir a interatividade que o contexto dinâmico em que vivemos nos exige. Quais são os recursos audiovisuais mais utilizados nos seus blogs e por quê? E como eles auxiliam na expressão das ideias que os seus blogs procuram difundir?


Tenho blogues mais dedicados à divulgação de livros, outros dedicados a projtos diferenciados (Literatura, Artes-Plásticas, Pedagogia, Sessões de Apresentação de Livros) e um ou dois do tipo generalista que eu uso mais para partilhar desabafos, irritações, bocas e afins... Em todos eles procuro publicar posts apelativos, rápidos de ler e sempre que possível, fotos e vídeos (alguns produzidos por mim). Um blogue de apoio a um projeto concreto, por exemplo: a divulgação de uma antologia literária, é um bom meio para consolidar e divulgar o próprio projto e os autores envolvidos.

8. Como blogueiro e disseminador da Literatura no Ciberespaço, você acha que as novas mídias podem ser utilizadas pelo professor como mais um recurso pedagógico para o processo de formação de leitores?

Também sou professor do Ensino Secundário (público e privado) e utilizo bastante os websites, os portais, os blogues e as redes sociais para complementar outro tipo de informação que vou fornecendo aos meus alunos. No meu entender, considero que a formação dos alunos tem que passar, cada vez mais e necessariamente, pelo conhecimento de blogues, portais, websites e redes. Sempre que inicio uma matéria nova em qualquer das disciplinas que lecciono (e são várias), além da bibliografia, indico também a webgrafia existente (que eu conheça) sobre o tema.

9. Sabemos que os internautas, principalmente os jovens, encontram no mundo virtual possíveis espaços de formação, de construção de identidade, etc.. Como é a recepção destes leitores em seus blogs?

Uma vez que criei cerca de trinta blogues até ao momento, é muito difícil fazer um acompanhamento razoável de todos eles e de controlar a sua recetividade por parte de quem os visita. Contudo, de uma maneira geral, posso dizer que vários dos meus blogues têm tido uma boa aceitação e sei que textos e imagens de alguns deles têm sido aproveitados e utilizados para trabalhos académicos (e não apenas pelos meus alunos).

10. Como blogueiro, quais os compromissos literários e sociais que um blogueiro assume ou não há comprometimento com a sociedade?

Como disse acima, os blogues são uma boa ferramenta para divulgação de projetos e para, digamos, desabafos quotidianos ao jeito de um diário (que pode proporcionar um bom exercício de psicanálise, de exorcismo ou de catarse) - não lhes dou uma importância maior do que esta. Não tenho nenhum comprometimento com a sociedade, muito menos com esta sociedade perdida, dirigida por "políticos da treta" que falharam em toda a linha e que deviam ser responsabilizados por isso. Tento ser um cidadão livre e responsável e luto todos os dias para ser cada vez mais livre mas os tais políticos da treta não deixam...
Os chamados blogueiros, escrevem nos blogues como podiam escrever num outro suporte qualquer; apenas têm que ter consciência (e a maior parte dos blogueiros tem) da mais-valia da interatividade dos blogues bem como respeitar os leitores e as regras básicas da deontologia dos povos onde se inserem, da moral e dos "bons costumes".

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